domingo, dezembro 17, 2006

Os "Ex"

Cuidado com os "ex"

Por Eduardo Almeida Reis
Jornal Estado de Minas - 17/12/2006

Com a experiência de oito casamentos, meu amigo Tuba vive repetindo: “Mulher não é problema. Difícil é a ex-mulher”. Não me queixo da mãe de minhas filhas e não tenho a vivência do Tuba, mas receio a figura do cristão-novo: qualquer cavalheiro ou dama que abjure algo praticado durante anos.

Basta lembrar que o presidente, reeleito por vocês, morre de medo da alagoana Heloísa Helena, com a qual não tem coragem de discutir qualquer assunto, nem sequer sobre a propalada influência da poeira das estradas nas plantações de mandioca. Por quê? Ora, porque Helô é uma ex-petista.

Martinho Lutero foi um ex-católico: morreu gente à beça nas guerras entre luteranos e católicos romanos. E o negócio vai por aí. Dia desses faleceu, aos 72 anos, um cavalheiro chamado Allen Carr, ex-fumante, guru do antitabagismo. Fumou até 1983, conseguiu livrar-se do vício e desenvolveu o método Easyway (Caminho fácil) supostamente para ajudar cavalheiros e damas que desejam deixar de fumar, isto é, todos os fumantes. Abriu 70 filiais do Easyway em 30 países, escreveu livros sobre o assunto – um dos quais vendeu 7 milhões de exemplares. A exemplo da maioria dos gurus, deve ter sido belo picareta: ficou riquíssimo falando mal do cigarro e acabou morrendo em sua casa, perto de Málaga, na Espanha. De câncer do pulmão.

Até o gato lá de casa está careca de saber que o fumo faz mal à saúde. A propósito, Guimarães Rosa disse que viver é muito perigoso. Tudo faz mal à saúde: sol forte, chuva fria, neve, carrapato, fumaça de ônibus e automóvel, mosquito, pum de ovelha, absolvição de senador, burrice alheia e cigarro, cuja fumaça também faz mal aos não-fumantes, chamados fumantes passivos.

País sério, a Inglaterra vem de proibir o fumo em todos os lugares públicos. Até outro dia, o Aeroporto de Heathrow, que tem dezenas de restaurantes, tinha um para fumantes: vivia cheio de viciados. Agora, deve copiar o Aeroporto de Chicago, que obriga os passageiros em trânsito a fumarem lá fora, com temperaturas de 20 graus abaixo de zero. E tem mais uma coisa: depois do cigarrinho que enregela, o passageiro passa, de novo, pela alfândega, é apalpado e tem que tirar os sapatos.

Na Califórnia, há uma cidade em que é proibido fumar até nas ruas: os viciados que fumem dentro de suas casas. E assim por diante: a guerra ao tabaco é total, sem que os resultados correspondam às providências dos governos. E isto por uma razão muito simples: os jovens são, por natureza, contestadores. Basta que se proíba uma coisa, mesmo baseada na evidência dos fatos, para que o jovem fique afinzão dela, como fica de outros fumos, pós e comprimidos infinitamente piores que o cigarro. Com a seguinte agravante: produtos que não recolhem impostos extorsivos aos cofres do Tesouro, gerando milhares de empregos de carteira assinada.

Até agora estamos no campo das obviedades: fumar faz muito mal, Teresina é quente, Manaus é úmida, o Deserto de Atacama é seco pra dedéu, Gisele Bündchen é linda, Ronaldinho Gaúcho é craque. Não me agradam crônicas sobre obviedades, nem creio que os leitores comprem jornais para lê-las. Escrevo para instigar: minha avó dizia que da discussão nasce a luz.

Estabelecido o fato de que fumar faz muito mal à saúde, ouçamos um espírito-de-porco chamado Jean-Louis Besson (A ilusão das estatísticas, Editora Unesp): “A atual carolice antitabagista (que se inscreve na religião da higiene) recorre, para elaborar seu catecismo, a argumentos de armazém: o custo pago pela coletividade para cuidar das doenças generosamente atribuídas ao uso do fumo. Mas ao armazeneiro, armazeneiro e meio: se admitirmos a hipótese de que o fumo é responsável pelas mortes prematuras, é preciso colocar na relação o sobrecusto social (cuidados médicos etc.) e os ganhos realizados. Como disse Marlene Dietrich em suas memórias: ‘As pessoas acreditam que, deixando de fumar, deixam de morrer. É falso, claro; elas morrerão de outra coisa’, cujo tratamento terá evidentemente um custo. As mortes prematuras evitam as despesas dos outros doentes, sem falar da economia nas aposentadorias!”

Ao argumento de Besson, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Ciências Sociais de Grenoble, que não fica em Nova Iguaçu, acrescento meu philosophar de botequim: é fora de dúvida que o fumo, para muita gente, é uma espécie de muleta. São inúmeros os casos de gênios que fumaram a vida inteira. Será que alguém já parou para pensar no tanto que a humanidade ficou devendo aos pensadores, pesquisadores, médicos, juristas, arquitetos & cia. que não deixavam de recorrer ao apoio de um cigarrinho?

Não estou fazendo apologia do fumo, porque sei que faz muito mal, mas tenho presente a lição de Aristóteles, ex-aluno de Platão: Amicus Plato, (sed) magis amica veritas (Platão é meu amigo, mas a verdade é mais minha amiga). Apesar de quase idoso, não fui aluno de Platão, mas sou amigo de linda doutorinha, profissional da pneumologia. Adoro quando falam mal de mim, porque escrevo para instigar, mas a doutorinha vira uma fera: cuidado com ela!

Eduardo Almeida Reis não é tecelão em Minduri, nem produtor de festas rave em Itabirinha de Mantena.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Nunca subestime uma mulherzinha
Por Fernanda Takai
Jornal Estado de Minas em 03/11/2006


A gente ainda alimenta algumas idéias moldadas por um certo movimento retilíneo uniforme bobo do nosso cérebro. Pra qualquer assunto temos lá nossas considerações a fazer. E um dos seres mais agraciados com opiniões dos outros somos nós, as mulherzinhas. E o pior é que também fazemos parte dessa engrenagem e, de certa forma, nos sabotamos sem querer.




“Só podia ser mulher! Ela não consegue”. Infelizes são os comentários que ouvimos sobre as coisas que fazemos ou deixamos de fazer. Puxa vida, esse negócio é tão forte pra gente que até quando vou estacionar o carro já fico pensando se tem alguém olhando pra me julgar. Mesmo que tenha escolhido a vaga mais difícil no estacionamento de um shopping lotado... Tá, reconheço que às vezes fico muito tempo escolhendo a roupa pra sair, e de carona vem o aparte: trocou de roupa de novo? E olha que eu conheço um tanto de homens que gastam mais tempo se arrumando do que a noiva da igreja mais próxima.

Ganhei de presente da jornalista Chris Campos, que escreve muito bem sobre as coisas do nosso “lar agridoce lar”, o livro de uma escritora que tem cruzado a minha vida em momentos diferentes. É um livro de mulherzinha, à primeira vista. Correio feminino vem numa capa rosa com bolinhas, em formato quase de revista. Seria apenas mais um livro desse gênero se a autora não fosse Clarice Lispector. É uma compilação de textos que ela escreveu para alguns periódicos em momentos diferentes entre 1952 e 1977. Como era escritora consagrada, ela escolheu se esconder atrás de três pseudônimos. Pelo jeito, Clarice também tinha medo de ser confundida com uma escritora para mulherzinhas.

Por mais que os assuntos fossem bem femininos, como dicas de beleza, etiqueta, tendências da moda, relacionamento com o companheiro, é possível ler a Clarice como ela era. No meio de tudo, ela sempre dava um jeito de indicar às mulheres uma atitude mais natural e pessoal. A leitura fica ainda mais divertida se conhecemos a escritora de outros livros e crônicas. Assuntos como insônia, cigarro, solidão, vaidade, saúde, expectativas, vizinhos fazem par com outros por sua obra afora. E ainda há textos incríveis que, provavelmente, Clarice nem precisaria deixar de assinar seu nome de verdade. E deve até ter pensado: “É mais do que me pedem pra escrever...”

Estava lendo esse livro numa lanchonete. Enquanto esperava o sanduíche, um moço na mesa ao lado esticou o olho e provavelmente leu em letras enormes “Você entende de homens?” numa das páginas que eu lia. Ele me jogou de volta um sorrisinho... Aí me deu vontade de mostrar a capa e apontar o nome da Clarice. Acabei não fazendo isso. Sorri amarelo de volta. Mas, de alguma forma, não me senti uma mulherzinha comum. Sabe por quê? Porque alguém como Clarice Lispector também era mulherzinha. E das boas!

terça-feira, setembro 26, 2006



A solidão amiga


Por Rubens Alves


A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“ Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

“Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos
poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.“

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

“...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.

(Correio Popular, 30/06/2002)

sábado, setembro 23, 2006

As vantagens de ser bobo

DAS VANTAGENS DE SER BOBO
Clarice Lispector
***
Clarice Lispector, 12 de setembro de 1970.
- O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no
mundo.
- O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se
perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou
pensando."
- Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se
lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade,
espontaneamente lhe vem a idéia.
- O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
- Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se
descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
- O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
- O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o bobo é um
Dostoievski.
- Há desvantagem, obviamente: Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de
um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse
que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea
onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não
funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estava
tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
- Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa fé, não desconfiar, e
portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser
ludibriado.
- O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
- Aviso: não confundir bobos com burros.
- Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das
tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu,
Brutus?"
- Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
- Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
- Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
- O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
- Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os
espertos não conseguem passar por bobos.
- Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida.
- Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás
não se importam que saibam que eles sabem.
- Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com
burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah,
quantos perdem por não nascer em Minas!
- Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cimas das casas.
- É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o
bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Clarice Lispector, 12 de setembro de 1970.

quinta-feira, março 02, 2006

E lá se foi fevereiro...

Fevereiro deixou sua marca registrada!
Dia 28 ao chegar em casa me deparei com o papagaio morto na gaiola. Havia dias que eu estava observando. Estranho foi nestes dois últimos meses ter sentido tanto a falta desta companhia agradável que era este papagaio. Jão não falava___ se bem que não era de falar mesmo, era só uma gritaria em tempos áureos ou então assoviava. Perdi uma companhia. Das raras que considero. Ficou um vazio grande. Nestes raros momentos que paro a pensar e lembrar destes anos todos em que ele esteve aqui, fico sempre pensativa pois, não sei se devo me alegrar pela presença dele ( tudo um dia finda!) ou se é triste observar que os animais tem preenchido muito mais os meus momentos de solidão.

Além disto, fevereiro foi uma correria danada, pois a tigresa, uma cadela box teve uma gestação de risco e deu cria, dos 3 + 2 + 2, só ficaram os tres primeiros. Agora ela está com pneumonia. Não queria me importar tanto com estes animais, mas também não tenho coragem de deixá-los a própria sorte.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

E a vida continua...


Como bem canta Paulinho da Viola: " E a vida continua, é o que todo mundo proclama" . Me rendo ao jargão.

A vida continua sim, é como um caminho sem volta. Ontem quando lembrei a brodi que se tia "D" estivesse viva estaria completando 64 anos, ele afirmou: O tempo passa e eu emendei: Mas a saudade não!

Saudade é uma coisa bandida. Não remeto a sentimento, porque ser coisa é mais doído e triste.

Tia "D" tinha uma mão para plantar. Tudo, ou quase tudo que plantava pegava. Sempre que vejo uma rosa no roseiral ou azaléias vou me lembrar de tia "D" com muita saudade.

Tia "P" ligou ontem, conversamos bastante, haja vista ultimamente eu não ter conversado muito pelo telefone com os entes, leia-se parentes. Daqui a um mês será aniversário dela. Contou que irá fazer uma cirurgia no nariz. E tio "oestaco" estava do lado. É bom quando a gente sente que as pessoas nos querem perto delas. Tia "P" sente remorsos sim, mas acredito realmente que está querendo se redimir do feito.

Ainda há pouco no radio tocava Amor I love You com Marisa Monte. É uma música muito gostosa de se ouvir.

Hoje no supermercado, encontrei dois colegas de faculdade. De uma coisa tenho certeza, estamos todos ainda curtindo muito o gostinho de não termos aula à noite.
Lembrei, que a noite passada sonhei que estava numa escola, ou faculdade. Não sei ao certo.

Ainda bem que amanhã termina o horário de verâo, pois eu ando bem cansada. Muito trabalho. Trabalho em si não é cansativo, o que cansa são coisas desta vida tão cigana.

Assunto pra outra hora.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

domingo, janeiro 29, 2006

No novo, as imprensões do velho mundo

Hoje a chuva chegou sem ser sorrateira. Chegou e desabou. Tudo molhou.

Há dias procurei pela senha e usuários deste blog. Engraçado que nos últimos dias nunca estive tão mais, isto mesmo, soa esquisito a frase, tão pouco sei se está corretamente escrita, no entanto nunca estive tão mais organizada! Cuidando da limpeza, faxina da casa. Gostando de cuidar de mim. Percebo o ciúmes advindas de fontes bem próximas. Enfim, como disse hoje no café da manhã, repito aqui: é preciso respeitar o espaço do outro. Eu quero o meu respeitado. Mesmo que isto custe a solidão monetãnea.

Na lida diária, a culinária tem marcado presença. Espero ser inversamente proporcional ao efeito da balança. Minha mãe, fez doce de figo com mamão. Ficou uma belezura, verde que só vendo, como dizem os interioranos daqui.


O pensamento está mais lúcido. Acredito que estas férias foram bastante proveitosas. Não forcei a mente, não exigi demais de mim, mas continuo com o senso alerta bem ligado. As vezes me pego postando mentalmente. Até que daria bons textos. Ainda não consegui algo que concilie o pensamento e a escrita conjuntamente. Talvez falte um pouco de planejamento, disciplina. Mas isto acaba burocratizando o que de mais livre tenho no momento, meu pensamento.