quinta-feira, dezembro 04, 2008

DECEPÇÃO E AÇÃO

Quando nos decepcionamos com a atitude praticada por quem a tanto amor dedicamos, a sensação de tristeza ou de revolta que isso enseja, pode levar-nos à prática de atos precipitados e até insensatos.Quanto mais alto é o conceito que fazemos de alguém e tanto mais nos sujeitamos a sofrer se este tiver atitudes das quais discordamos ou imaginamos lesivas a nós.Reagir sem pensar é próprio do instinto animal de defesa, mas, nem sempre conseguimos a proteção através de atos espontâneos.O relacionamento humano não se rege por uma prática idêntica à de um jogo de pingue-pongue.A prevalência da razão sobre a sensação se faz necessária exatamente nas horas em que somos atingidos pela decepção, requerendo estudo do caso. Reação requer estratégia.Muitas lutas se perdem na vida por falta de planejar como encontrar o melhor meio de se relacionar e tratar os problemas.A tendência de julgar sem analisar é grande porque as emoções podem suplantar a razão.Tudo, entretanto deve ser fruto de raciocínio, de indagação.Se realmente comprovamos que a intenção de outra pessoa foi a de nos atingir, melhor é planejarmos estratégias de como reagir.Isso não implica agredir, odiar, revidar ou arquitetar ato equivalente, mas racionalmente reduzir impactos e prevenir contra reincidências. Em tese pagar o mal com o mal é potencializar a maldade. Omitir-se, todavia, diante do mal é expor-se a sofrer novamente.Embora o equilíbrio se manifeste por forças contrárias, exigindo, no caso que o mal com o bem se venha a pagar, a prática nos mostra que existem pessoas incompetentes para entender tal princípio, estando sempre dispostas a repetir as agressões que nos fazem.Perdoar nem sempre é fazer um bem; a tolerância com o erro, sem advertência ou educação é uma forma de prejudicar e não de beneficiar.Se constatamos que existe algo errado, se não duvidamos que não somos os responsáveis pelo sucedido, o remédio estará em estrategicamente planejar nossa defesa.A impunidade gera muitos males, tanto a quem os pratica quanto àqueles por eles são vitimados.A tolerância para com os erros tende a potencializá-los; assim sempre aconteceu.Há dois mil anos foi a complacência do imperador romano Tibério, face as depravações de seu neto, a que criou o monstro Calígula, este que terminou por assassinar o próprio avô e a praticar um governo autocrata e pleno de injustiças, embora aparentemente de combate à fome e de apoio ao circo, segundo as narrações de Suetônio (na obra “A vida dos doze Césares”).Ao descrever Calígula o grande historiador do século I afirmou; “Até aqui falei de um príncipe. Quero falar agora de um monstro”.Em certo trecho da obra referida Suetônio, sobre Calígula afirmou reforçando seu conceito: “Aliava à monstruosidade dos seus atos a atrocidade dos seus propósitos”.Existem seres incorrigíveis, insensíveis aos sofrimentos alheios, egoístas de tal forma que tudo para eles se resume em suas próprias pessoas.Podem aparentar fazer o bem, mas, suas intenções são as do mal e este o propósito que os move.É comum apresentar motivos nobres para praticar vilanias.Os indivíduos aludidos não cedem diante de atos nobres e nem entendem o perdão.Se não podemos corrigir-lhes de todo que pelo menos no que nos toca sejamos justos e façamos sentir nosso desagrado e afastamento.A pena de morte de uma pessoa em nosso pensamento, em nossa consciência, é mais severa que a penalidade física que se lhe pudéssemos impor.Rebeldes assassinaram Calígula antes que ele completasse quatro anos de governo, quando tinha pouco mais de 29 anos, mas, maior pena ter-lhe-iam imposto se lhes privassem de toda a importância que ele julgava ter e que na realidade nunca teve.

Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá

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